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sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Do Blog "Rumos da Boemia" Por Antonio Claudio Marcondes


Na Rotina dos Bares

Quem acompanha o blog sabe que o Rumos não fala só sobre bares. Ele tenta descrever a natureza da boemia - e esta essência, você pode encontrar também no espetáculo teatral “Na Rotina dos Bares”. Nunca tinha visto uma montagem tão completa sobre o assunto. Esta experiência é pautada no belo estudo de Marcos França, que já falou de grandes boêmios em outros musicais, como o de Antônio Maria e Ary Barroso. Um panorama, com o melhor do nosso cancioneiro brasileiro, trazendo lembranças do nosso Rio, que já foi o berço de tudo, cujos bares foram o local de criação das maiores pérolas da nossa música, arte e pensamento.



Com uma suave e primorosa direção artística de Ana Paula Abreu, a representação mostra como foi a evolução e decadência da nossa boemia. Botecos que não existem mais, e alguns sobreviventes, foram ponto de encontros de intelectuais e artistas consagrados. Propõe-se um singelo conjunto harmônico de cena, na qual a gente se sente num bar mesmo, acompanhando um boêmio, Chico (interpretado esplendidamente por Antonio Pedro), contando histórias sobre o que acontecia na noite carioca. O diretor musical Fabio Nin ficou responsável por banhar a peça com canções como “Rio antigo”, “Memórias do café Nice”, “Bar da noite”, “Bares da Cidade” e “Saudades da Guanabara”.



Taberna da Glória, Botequim Martinez, Café Nice, Bar Veloso, Zicartola, Vilariño, Beco das Garrafas, Cabaré Apolo, Vogue e Lamas - esses eram os estabelecimentos que foram grandes pontos de encontro. Muita gente deve achar que isso é uma super nostalgia, mas não. Essa peça é uma grande homenagem ao espírito carioca. E o que o carioca mais gosta de fazer depois de um dia de labuta? Beber aquela gelada, é claro! E jogar aquela conversa fora.

Então é isso gente, Rumos também de olho nos teatros, onde essa paixão fluminense também é enfatizada. Parabéns para toda equipe de produção e elenco pelo excelente trabalho.

E não é que da vontade de ir ao bar depois do espetáculo? (risos)

Desce mais uma………





Na Rotina dos Bares
De Marcos França
Direção artística Ana Paula Abreu
Direção Musical Fábio Nin
Elenco: Antonio Pedro Borges, Marcos França, Édio Nunes, Letícia Medela e Sheila Matos.
Reestreia: 11 de novembro na Sala Baden Powell - Copacabana
Colaboração: Lydianna Lima
Fotos: Lorena Lima

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Dica do Leitor Rafael Moura, no Globo.

Revista de História - Drinques e Parcerias. Por Vivi Fernandes de Lima

"A humanidade está sempre três uísques atrasada”, diz a máxima do ator de Hollywood Humphrey Bogart. Para comprovar a veracidade desta afirmativa, basta observar como os bebedores, a partir de um certo tempo em volta da mesa, são capazes de propor soluções para todos os problemas do mundo. Sim, todos. Talvez por isso volta e meia um novo livro sobre a cultura dos bares aparece nas prateleiras das livrarias. Guias, contos, romances...

Lugares onde a criatividade anda à solta, os bares do Rio de Janeiro sempre tiveram um cantinho especial na história cultural da cidade, reunindo artistas e ilustres “filósofos”, como os escritores João do Rio, Vinicius de Moraes e Antônio Maria. Estão aí o Bar Vilariño, o Bar Luiz e o Bar Brasil, que não deixam ninguém mentir. E a música popular brasileira deve muito a esses bares. Nesses espaços nasceram canções e parcerias, que são exaltadas até hoje, como Tom & Vinicius e Vadico & Noel Rosa. É este clima de boemia musical que a peça “Na rotina dos bares”, de Marcos França, apresenta no palco da Sala Baden Powell até 4 de dezembro.

De cara, o espetáculo começa com uma canção que é praticamente um hino da cidade, “Rio antigo”, de Chico Anysio e Nonato Buzar (“Quero um bate-papo na esquina/ Eu quero o Rio antigo com crianças na calçada...), fazendo referências também a pontos de encontro da boemia carioca, como o Café Nice. Em cena está Chico (interpretado por Antônio Pedro Borges), um boêmio que fica desolado ao encontrar o Café Bar Lamas de portas fechadas em 1976, por causa das obras do Metrô no Largo Machado. É aí que ele começa a se lembrar dos botequins que frequentou e de suas interessantes companhias.

Como um bom frequentador de botequim, Chico é também um bom contador de histórias, que podem não ser verdadeiras. Afinal, ele foi amigo de toda a boemia carioca dos anos 30 aos 70. Foi ele, por exemplo, quem apresentou Noel Rosa à Ceci e viu o poeta da Vila ficar com o coração despedaçado com o romance de sua amada com Mário Lago. Verdade ou mentira? Os dois. A biografia de Noel é muito clara com relação a este triângulo amoroso, isso é fato. Mas Chico é uma invenção do autor teatral. “É um personagem que por vezes inventa a sua biografia. Em sua fantasia tudo pode ser permitido”, diz Marcos França, que também está em cena.

Pelos bares da vida

Por meio da memória do protagonista, o musical “Na rotina dos bares” traz um bom panorama de como a história do Rio de Janeiro se entrelaça de uma forma muito especial com a história da música popular brasileira. Os cinco atores – além de França e Borges, estão Édio Nunes, Letícia Medella e Sheila Matos – se desdobram em diversos personagens. Dirigidos por Ana Paula Abreu, interpretam Carmen Miranda, Noel Rosa, Dolores Duran, Antônio Maria, Tom Jobim, Vinicius de Moraes, Nara Leão, Elizeth Cardoso, Zé Keti... Todos eles vivendo intensamente os bares de seu tempo. Estão lá Café Nice, Cassino da Urca, Lamas, Bar Luiz, Zicartola, Vilariño, Vogue, Bar Veloso, o animado Beco das Garrafas e o Cabaré Apollo. E cada um deles tem em suas histórias capítulos que formaram a MPB.

No Vilariño, por exemplo, Vinicius de Moraes foi apresentado a Tom Jobim, e juntos fizeram as músicas da peça "Orfeu da Conceição", de 1954. Até hoje o bar preserva na parede uma fotografia que reúne boêmios de renome: Vinicius, Paulo Mendes Campos, Fernando Lobo e Lúcio Rangel estão entre eles. Ao fundo, a lembrança do que seria um grande registro para a história do Rio de Janeiro: a antiga parede com desenhos dos frequentadores como Di Cavalcanti, versos de Neruda e até acordes de “Aquarela brasileira”, de Ari Barroso. Numa véspera de Natal, o dono do bar simplesmente resolveu deixar o estabelecimento mais limpo, e pintou as recordações. O jornalista e compositor Fernando Lobo chegou a chamar o episódio de “atentado” no livro “À mesa do Vilariño” (Ed. Record). A importância do lugar, ele expõe com clareza: “A boemia desta cidade durante as décadas de 50 e 60 se juntou sem encontro marcado, na mesa comum do Bar Vilariño”. E lá estava também o personagem Chico, por que não?

Tratando o passado recente de forma, ao mesmo tempo, divertida e nostálgica – afinal, Chico é movido pela saudade – o espetáculo traz, além da história desses lugares e de seus frequentadores, um repertório impecável. Sob a direção musical de Fabio Nin, os atores cantam acompanhados pela banda em cena. E não é pouco: são 24 canções costuradas em um roteiro que preserva a leveza do tema, mas sem cair no oba-oba, apresentando os protagonistas da nossa história musical com a seriedade que eles merecem.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Trailer NA ROTINA

Carta de um espectador

Santa rotina....

‘Cada escolha é uma renúncia’ – cresci ouvindo essa máxima, nunca pensava nela profundamente até que, um dia, cresci ou passei a crer que me dizer adolescente não era apropriado. Sai da boemia e escolhi uma vida que me enche de medo, sou cheio de responsabilidades e ainda fico pensando, o que só faz piorar a agonia de viver. Porque a ignorância é realmente a chave para a felicidade, mas uma vez infectado pelo vírus da curiosidade, nunca mais o sossego é pleno. Às vezes eu me encontro com a Boemia e nela encontro a vida, os sonhos e a leveza.


Ver seu espetáculo foi embriagar sem por álcool na boca, na veia, na vida. A cada canção, passo vinha inúmeras lembranças de uma vida que deve ser mais vivida e sonhada. Só em um bar a gente prever o futuro e tem medo do amanhã ou do ontem, o grande medo pavor do revés… Como não se apaixonar pelo cenário e suas mesas flutuantes? Ou pela belíssima trilha sonora (ainda que o som do SESC não ajude)? Como não querer sair do teatro para um bar? Ir para o bar ouvir aquela banda, aquele trio.


É lindo ouvir o Marcos França escorregar a poesia com sua bela interpretação, como é suave e venenoso o Antonio Pedro Borges derramar a poesia de bar sobre a mesa. Édio Nunes e sua bela voz faz a gente chegar ir para casa e pedir uma dose de Vinicius e Tom e beber um porre. Sheila Mattos e sua bela voz, seu lindo olhar. E o que é o sorriso de Letícia Madella? É o Lupo, é o malte, é o brilho do terceiro cole. Fruto do mato, cheiro de jardim, namoro no portão, domingo sem chuva, uma festa, um violão, uma seresta. Um belo espetáculo, uma bela produção.


A sorte me brindou com uma bela noite mais uma vez. E sempre fui um boêmio sortudo e agradeço muito e sempre pela sorte que tenho, ainda que sou tão distraído e impressionável. Paranóico, confuso, cansado e muito satisfeito – talvez até empanturrado, ou pode ser apenas um mecanismo de defesa acionado pelo medo de perder. O bar é como um amor que escolhi, ainda é paixão que aumenta, planejamos, (eu e o bar) fugir de casa como velhinhos rebeldes quando os meninos forem grandes para desejarem distância dos pais, planejamos nossa cerimônia oficial de casamento. Planejamos ter uma casa no campo para plantar nossos livros e discos e a utopia de viver em paz. Nossa sintonia é tão grande que dividimos pensamentos, e cresce… Escolhi aceitar esse amor pela boemia, ainda que não me considere digno de tanta paixão.


Ser boêmio não é ser vagabundo, é estilo aventureiro de se jogar no perigo. Ter a cara sempre cheia de coragem é o que fez a vida tão interessante até aqui. Então vamos protejer nossas bebidas e nossos petiscos. É emocionante apesar da rotina ser, quase sempre inevitável. É fundamental no boêmio ter um mundo desabitado, ter esses dois reis para governar os monstros que criamos antes de eles existirem – cada bar é um pequeno herói que me salvam de mim.

Quero agradecer a vocês...

Genilson Barbosa